8ª série
8ª série
O Tropicalismo
(Tropicália ou Movimento Tropicalista)
O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.
Os Tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio musical brasileiro. A música brasileira pós-Bossa Nova e a definição da "qualidade musical" no País estavam cada vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas tendências, o grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica. Ao unir o popular, o pop e o experimentalismo estético, as idéias tropicalistas acabaram impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura nacional.
Discos antológicos foram produzidos, como a obra coletiva Tropicália ou Panis et Circensis e os primeiros discos de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Nesses discos, se registrariam vários clássicos, como as canções-manifesto "Tropicália" (Caetano) e "Geléia Geral" (Gil e Torquato). A televisão foi outro meio fundamental de atuação do grupo –– principalmente os festivais de música popular da época. A eclosão do movimento deu-se com as ruidosas apresentações, em arranjos eletrificados, da marcha "Alegria, alegria", de Caetano, e da cantiga de capoeira "Domingo no parque", de Gilberto Gil, no III Festival de MPB da TV Record, em 1967.
Irreverente, a Tropicália transformou os critérios de gosto vigentes, não só quanto à música e à política, mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. A contracultura hippie foi assimilada, com a adoção da moda dos cabelos longos encaracolados e das roupas escandalosamente coloridas. O movimento, libertário por excelência, durou pouco mais de um ano e acabou reprimido pelo governo militar. Seu fim começou com a prisão de Gil e Caetano, em dezembro de 1968. A cultura do País, porém, já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos.
O Zen e a Arte do Haikai
"O Sentido e a essência
não se encontram em algum lugar atrás das coisas,
senão em seu interior, no intimo de todas elas."
(Hermann Hesse)
O haikai é uma pequena poesia com métrica e molde orientais, surgida no século XVI, muito difundida no Japão e vem se espalhando por todo o mundo durante este século. Com fundamento na observação e contemplação enfatizando o sentimento natural e milenar de apreciação da natureza através da arte, sentimento este inerente a todo o ser humano. O mais tradicional poeta deste estilo é Matsuo Basho, monge Zen que aperfeiçoou o estilo e divulgou suas obras no final do século XVII.
As vantagens sobre o estudo e disciplina na escrita e apreciação de haikais são infindáveis. Áreas da vida como percepção, concentração, escrita em geral, comunicação, relacionamentos, intuição, autoconhecimento, meditação, expressão e gosto estético são afetadas e desenvolvidas de forma surpreendente e enigmática por quem entende e participa do haikai. Esta antiga forma poética permanece hoje revelando a sensibilidade dos poetas na busca da essência da natureza, no íntimo de todas as coisas de forma simples, sutil e artística. Seu pequeno tamanho está relacionado com a busca da unidade de forma compacta, com o foco e com o fato de que é mais fácil transmitir, lembrar e reviver rapidamente as impressões em poemas curtos.
O objetivo é capturar a essência do local numa poesia contemplativa com grande valorização nos contrastes, na transformação e dinâmica, nas cores, nas estações do ano, na união com a natureza, no momento passageiro versus eternidade (ruptura do contínuo) e no elemento de surpresa. O prazer está nos contrastes, nos jogos da luz e da sombra da realidade e dos sonhos e do misterio. Está justamente na interseção entre o que é conhecido e lógico e o desconhecido. A beleza está no equilííbrio das partes. A visão da eternidade e unidade que existe nas coisas e na natureza como um todo é encontrada na observação de cada um dos múltiplos momentos passageiros que a compõe.
O haikai possui uma estrutura extremamente concisa, que se situa em torno de uma série bem definida de regras, mas nem sempre obedece à sua forma original, podendo ser levemente modificada e adaptada para diversas circunstâncias. Cada haikai pode ser escrito com um fator predominante em sua composição. Alguns dão mais importância ao conteúdo com a imagem de um momento da natureza. Outros escrevem com a intuição e inspiração no zen-budismo. Outros dão mais importância à métrica com 17 sílabas, usuais ou poéticas, distribuídas em 3 linhas com 5 sílabas na primeira linha, 7 na segunda e 5 na terceira (forma 5-7-5). Alguns buscam a rima ou então a utilização do kigo, palavra ou termo relativo à estação do ano.
O uso de figuras de linguagem como metáforas costuma ser evitado, pois pode levar a distrações e desvios no foco da imagem ou do tema central. Apesar do conteúdo muitas vezes lembrar o instantâneo e o efêmero, o haikai, ao ser escrito, exige do poeta paciência, força de vontade e trabalho para focalizar a idéia da imagem captada, de forma que esta possa ser colocada por escrito na forma correta, pois as palavras são poucas e cada uma tem o seu peso. O trabalho está em percorrer o caminho entre o momento da idéia ou da imagem na mente e o trabalho final no papel, em palavras.
Na filosofia Zen, assim como no haikai, é necessário ter introspecção e análise mais profunda, fazendo-se perceber e descobrir curiosos e belos fatos naturais que de outra forma passariam despercebidos. Mais do que inspiração, é preciso meditação, esforço e, principalmente, percepção para a composição de um verdadeiro haikai.